Visualizações de páginas da semana passada

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Seu olhar em meio a cidade



Nosso olhar se cruza em meio ao turbilhão da cidade
Tudo passando...as insólidas relações prematuras
Sim, pois na selva de pedra a natureza tem seu útero transgredido
E nós também passávamos, quando algo...ainda existe o algo...apesar

Olhei pra trás e você também me olhou. Estado de luta.
Cada parte de nossos corpos tem movimento próprio
Como se cada membro fosse treinado num movimento próprio
Memória corporal, vivência, vontade intracelular

Sei disso, pois meu pé se foi e meu olhar ficou
Sei disso porque meu coração acelerou-se e olhar se acalmou
Sei disso, porque fitei você e no passar do instante se deu a eternidade

Doce amada de olhos febris, ouvi a dor que eles me trouxeram
Cantos sombrios, em concordância artística com suas matizes
Tive a impressão que na dor éramos irmãos gêmeos...
Mas tudo passa e você passou. Os pés, nossos pés sempre bom servidor da hora marcada

Sei que de ti descobri tudo. Tudo o que cabe no seu Negro Olhar
Segredos, sempre haverão, incomunicados como o é também deus
Mas algo se espelhou em mim, no passar, algo se eternizou
Quiçá, nos vemos, neste dia nosso olhar dominará nosso pé

Sei disso, pois meu olhar ficou e meu pé obedeceu
Sei disso, pois a calma do meu olhar serviu de harmonia ao rápido bater do coração
Sei disso, porque não há mais momento, só o nosso eterno olhar na morada dos deuses

"As vivências mais nossas não são nada Tagarelas"...Nietzsche.




Aprender a me silênciar diante do que a mim se apresenta como incrível tem sido uma grande guerra. Quantas vezes, algo se deu com tamanha dimensão aos nossos ólhos ciumentos e que nos foi imperativo compartilhar tal incrível, e a pessoa que nos ouve descontrói com seus sons ou com sua face o nosso estado de torpor? Nos diz: é isso que te emociona? Tentar explicar nesta hora é loucura. A nossa experiência só o é incrível, porque atrás de si tem todos as cicatrizes dos nossos anos vividos, a foça das nossas ilusões e tudo o que fizemos e deixamos de fazer, o modo único pelo o qual sentimos, os entusiasmos únicos de nossa existência. Aí, porque nós somos nós é que uma situação nos é tão aprecível. Ora, esta unicidade que se mostra nos nossos paladares é factual em todas as nossas experiências.
Hoje aprendi a rir quando alguém me oferece um segredo de dieta ótimo que a/o fez emagrecer. Mesmo com toda a boa intenção, ela ou ele pressupõe neste ato que o seu organismo fisíco e mental é o mesmo que o meu e a sua experiência feliz pode ser moralizada e se tornar lei. Não é assim que funciona, cada um tem seus dentes, cada estômago possui sua velocidade, cada veia tem a sua expressura, cada garganta o seu abismo, logo, nós homens somos únicos, e não moralizáveis. Tal tentativa moralizante recai também nos sentimentos, e nos obrigamos a amar igual, a sentir igual, a dar igual tonalidade aos diversos conceitos que nos apresentam. Eu por exemplo, tenho uma amizade bastante incomum e havia de ser, já que eu e o meu amigo somos únicos, logo o tipo de amizade que nos cabe é fruto da unicidade dos seres que se relacionam, da idade que se relacionam, das experiências que tiveram , e mais, mais, mais vairantes únicas.
A forma como me deixa feliz uma amizade, é a minha forma que se forma sobre dois tabuleiros distintos. E assim, é-me sempre forçoso explicar quando me indagam: Que tipo de amizade estranha é a sua? parece com isso, ou aquilo e tem um pouco daquilo naquilo, o que é? E nessas horas, quando me lanço a sandice de explicar as pessoas, todas de forma inconsciente, vão nos seus arquivos históricos mentais procurar vivências, nomes, conceitos, sentimentos que codificam o que eu lhes disse. Loucos! Não se parece com nada, não é verossemelhante a nada, é a minha amizade, ha sempre que se inventar palavras novas pras vivências únicas quando se tem vontade de poder suficiente, quando a persona si impõe sempre aos conceitos o poder da sua individualidade criativa.
Enfim, amigos meus, aprendeis a silênciar quando algo si apresenta a vós com ares divinos, pois podeis ver se tornar ruínas o maravilhoso. E compartilhar esses momentos únicos é correr num risco tão grande - o de ver ruir o maravilho - que só quando se si eleva em desprezo é que podemos fazer isso, como diria o grande Nietzsche. Aos demais, não tente me conceituar, me definir, eu sou eu e já o é tão difícil sê-lo neste mundo que cultua o nós, a mistura, a comunidade e que a cada dia se "arrebanha" mais e perde dentro de suas caricaturas feitas em série o seríssimo, doce e misterioso singular indivíduo. Acima de tudo lhes peço: Não me confunda!

Para finalizar, eis o poeta:



Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas Rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias

A Realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios

Suave é viver só
Grande e Nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos Deuses

Vê de longe a vida
Nunca a interrogues
Ela nada pode Dizer-te
A resposta está além dos Deuses

Mas serenamente
Imita o Olimpono no teu coração
Os Deuses são Deuses
Porque não se pensam.

Fernando Pessoa